domingo, 18 de março de 2012

Entrevista com Gedeão Silva

Na passada semana dirigi-me à Embaixada do Brasil, para falar um pouco sobre Emigração com o, também economista, Dr. Gedeão Silva. Uma conversa interessantíssima que durou cerca de uma hora. Naturalmente, não a poderia apresentar toda, por isso escolhi as 5 perguntas cuja resposta achei mais interessante... Aqui vai:


Como evoluiu a emigração brasileira para o nosso país ao longo dos últimos tempos?
Nos dias de hoje, portanto nestes últimos dois anos pode-se dizer que há um “empate técnico”, isto é entra tanto quanto sai. Mas olhando de trás para a frente, no final da ditadura salazarista, devido a um acordo celebrado entre os nossos dois países, o fluxo mais significativo era de estudantes que tiveram um grande impacto na comunidade estudantil portuguesa. Vieram nesta época muito mais jovens brasileiros estudar para cá do que estudantes portugueses para o Brasil. Depois, com a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, com todas as consequências que daí derivam, houve um momento em que vieram profissionais capacitados do Brasil para Portugal: publicitários, jornalistas, executivos, os famosos dentistas. Essa segunda leva teria vindo entre os anos 80 e 90. E a partir dos anos 2000 registou-se um aumento muito significativo da vinda de imigrantes até à recente quebra.


Atualmente qual é a dimensão da comunidade brasileira em Portugal?
A comunidade brasileira trata-se, sem dúvida, da maior comunidade imigrante residente em Portugal. Representa cerca de ¼ das comunidades estrangeiras deste país, dos 450 000 imigrantes em Portugal, existem cerca de 120.000 brasileiros legalizados cá.


O que é que Portugal oferece de melhor que o Brasil?
Para o imigrante brasileiro que consegue uma certa estabilidade, Portugal é muito atraente por ser, comparado com o Brasil, um país de brandos costumes. Isso é uma realidade: É um país muito menos violento, mais organizado enquanto Estado, as pessoas têm saúde pública, têm Educação... São coisas muito valorizadas, principalmente para quem tem filhos porque nós não temos isso no Brasil. A questão da violência é um problema sério no Brasil. Aqui, as pessoas conseguem ter uma vida mais tranquila, com mais estabilidade.


Qual é o sector de trabalho que emprega mais brasileiros?
A maioria dos imigrantes ocupam-se de trabalhos de mão-de-obra pouco qualificada, trabalham nas obras, são pedreiros, servindo nos cafés, lojas, na limpeza, entre outros, mas que não deixam de ser profissões menos nobres. Há também muitos brasileiros empresários, gente que tem dinheiro e, por diversas razões, mora em Portugal e gosta muito de Portugal. É exemplo o meu conterrâneo, o Fernando Pinto, gestor da TAP. E há, sobretudo, essa “terceira onda” [anos 2000], de uma classe menos alta, em que alguns estão regressando. Outros vieram para Portugal com pouco dinheiro mas com projetos e vontade de trabalhar.


Já se observa a saída de muitos cidadãos brasileiros. Se isto é verdade porque é que acontece?

Sim realmente apesar do “empate técnico” que vos falei podemos afirmar que a comunidade brasileira tem vindo a diminuir nestes últimos anos. Em primeiro lugar, existe a crise que Portugal enfrenta. Se para os nacionais já é difícil arranjar emprego então para os emigrantes é muito mais difícil. Depois temos a questão da burocracia. Existe muita papelada, muito protocolo e por vezes é até difícil se legalizar. Também o Brasil está a crescer e é agora atrativo. Já não se pode dizer que o Brasil é um país do terceiro mundo.

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